Ontem, sábado, a ONU desenhou uma proposta de cessar-fogo para o conflito entre Israel e o Hizballah, que já se arrasta por quase um mês. Estados Unidos e França chegaram a um acordo sobre a proposta. Mas hoje de manhã, ao ler a reação dos dois lados, não pude deixar de pensar numa frase do Abba Eban que ficou famosa.
O embaixador israelense nos Estados Unidos e na ONU dizia que os árabes nunca perdem uma oportunidade de perder uma oportunidade. Fato. Em 1947, quando a ONU dividiu a Palestina britânica em dois, os judeus aceitaram e os árabes não. Conclusão: 58 anos depois, existe Israel, mas ainda não existe Palestina.
Com o cessar-fogo rabiscado ontem, idem. Os líderes do Hizballah e da Liga Árabe, em contraste ao governo israelense, recusaram as condições do documento. Pudera. A proposta da ONU prevê que as tropas de Israel continuem no sul do Líbano até a chegada das forças internacionais.
De novo, os esforços diplomáticos podem descer pelo ralo.
Falei a respeito do assunto na RFI ontem. Eu dizia que propostas de cessar-fogo encontram forte resistência em Israel. E continuei: "existe por aqui o entendimento de que um cessar-fogo imediato e imposto pela comunidade internacional é um mau cessar-fogo. A região precisa de um acordo abrangente e durável, que consiga afastar a ameaça do Hizballah da fronteira entre Israel e o Líbano e ao mesmo tempo pressionar a Síria e o Irã a não rearmar o grupo libanês. Existe a necessidade de colocar o governo de Beirute de volta ao controle do Líbano".
[ALMA DO NEGÓCIO] E uma guerra não se faz apenas com mísseis. Imagens e slogans são parte da realidade de guerra. O Bean e a Daniela já contaram, mas eu faço questão de relembrar aqui que já virou "moda" colar nos vidros dos carros adesivos com inscrições otimistas e de incentivo. O que eu vejo mais freqüentemente, feita pelo banco Leumi ("nacional") diz "Nós venceremos", esse. Em diversas cidades outdoors como esses estampam os dizeres "Israel é forte". Tudo para não deixar o ânimo da população cair - outra coisa sobre a qual falei ontem na RFI. A população está impaciente e querendo uma resolução para o conflito.
[DEPOIMENTO] A Nathy contou um pouco do clima lá no norte. A família adotiva dela recebeu alguns parentes que moram em Carmiel e estavam em abrigos. E ela ouviu deles o relato do dia a dia de medo e tensão na guerra, aqui.
[INDO LONGE] Vale lembrar que nos últimos dias mísseis do Hizballah chegaram até Hedera, o ponto mais ao sul já atingido pelo grupo libanês. E vale dizer que a Hedera fica a poucos quilômetros do norte de Netania, cidade onde moram meu pai e meu irmão. E o Nasrallah já prometeu atingir Tel Aviv, que fica bem mais ao sul... E, bom, nem a cidade onde moram minha mãe e minha irmã, Campinas, está de fora dessa briga - ontem a sinagoga de lá foi atacada.
[ENQUANTO ISSO] Ontem à noite mais um atentado terrorista foi frustrado depois que uma mulher foi presa com explosivos. E o Irã anunciou que vai expandir as atividades nucleares...
3 comentários:
Gabriel,
Sabe qd essa notícia de q um atentado terrorista foi frustrado chegará ao Brasil? Nunca! Ou, se chegar, será com muito custo...É por essas e outras q uma parte da imprensa brasileira faz uma cobertura irresponsável. Mostrar prédio em Beirute destruído é mole. Mostrar braso-libaneses desembarcando em SP e agourando Israel é simples. A cobertura à distância não pode se limitar ao drama dos libaneses. É necessário demonstrar diariamente o motivo pelo qual Israel reage. No entanto, isso não ocorre. Parece que Israel ataca o Líbano pelo simples prazer de tentar impor seus interesses - e os dos americanos - na região. A cobertura das organizações Globo está nojenta. Depois atacam sinagoga em Campinas e ninguem sabe o porquê. Não é nem uma questão de ser contra ou a favor da guerra. É uma questão de esclarecer os fatos, sem apelos sensacionalistas.
Parabéns pelos blogs!
Quanto mais leio sobre isso, menos razão dou para os ataques israelenses. Adoraria ver os motivos que o Eduardo citou no seu comentário, e que realmente desconheço.
Aliás, pelo que li e vi a respeito, nada mais natural que rejeitarem o cessar fogo nos termos propostos. Seria como pedir pros caras: "ó, abaixem suas calças, relaxa, e goza, porque já te f... mesmo".
Eu, certamente, não cederia.
Mas posso estar enganado, só preciso de fatos novos. Os que vejo me fazem pensar assim.
Mas o que mais gosto aqui é poder ter esse outro lado da história. Porque normalmente só vemos a versão dos, supostamente, coitados da história. Que nesse caso parecem ser os palestinos.
[]s
Sinceramente nem sei onde isso vai parar..mas parece que esse povo arabe e meio...deixa pra la..
Postar um comentário