domingo, agosto 06, 2006

Rabiscando um cessar-fogo

Ontem, sábado, a ONU desenhou uma proposta de cessar-fogo para o conflito entre Israel e o Hizballah, que já se arrasta por quase um mês. Estados Unidos e França chegaram a um acordo sobre a proposta. Mas hoje de manhã, ao ler a reação dos dois lados, não pude deixar de pensar numa frase do Abba Eban que ficou famosa.

O embaixador israelense nos Estados Unidos e na ONU dizia que os árabes nunca perdem uma oportunidade de perder uma oportunidade. Fato. Em 1947, quando a ONU dividiu a Palestina britânica em dois, os judeus aceitaram e os árabes não. Conclusão: 58 anos depois, existe Israel, mas ainda não existe Palestina.

Com o cessar-fogo rabiscado ontem, idem. Os líderes do Hizballah e da Liga Árabe, em contraste ao governo israelense, recusaram as condições do documento. Pudera. A proposta da ONU prevê que as tropas de Israel continuem no sul do Líbano até a chegada das forças internacionais.

De novo, os esforços diplomáticos podem descer pelo ralo.

Falei a respeito do assunto na RFI ontem. Eu dizia que propostas de cessar-fogo encontram forte resistência em Israel. E continuei: "existe por aqui o entendimento de que um cessar-fogo imediato e imposto pela comunidade internacional é um mau cessar-fogo. A região precisa de um acordo abrangente e durável, que consiga afastar a ameaça do Hizballah da fronteira entre Israel e o Líbano e ao mesmo tempo pressionar a Síria e o Irã a não rearmar o grupo libanês. Existe a necessidade de colocar o governo de Beirute de volta ao controle do Líbano".

[ALMA DO NEGÓCIO] E uma guerra não se faz apenas com mísseis. Imagens e slogans são parte da realidade de guerra. O Bean e a Daniela já contaram, mas eu faço questão de relembrar aqui que já virou "moda" colar nos vidros dos carros adesivos com inscrições otimistas e de incentivo. O que eu vejo mais freqüentemente, feita pelo banco Leumi ("nacional") diz "Nós venceremos", esse. Em diversas cidades outdoors como esses estampam os dizeres "Israel é forte". Tudo para não deixar o ânimo da população cair - outra coisa sobre a qual falei ontem na RFI. A população está impaciente e querendo uma resolução para o conflito.
[DEPOIMENTO] A Nathy contou um pouco do clima lá no norte. A família adotiva dela recebeu alguns parentes que moram em Carmiel e estavam em abrigos. E ela ouviu deles o relato do dia a dia de medo e tensão na guerra, aqui.
[INDO LONGE] Vale lembrar que nos últimos dias mísseis do Hizballah chegaram até Hedera, o ponto mais ao sul já atingido pelo grupo libanês. E vale dizer que a Hedera fica a poucos quilômetros do norte de Netania, cidade onde moram meu pai e meu irmão. E o Nasrallah já prometeu atingir Tel Aviv, que fica bem mais ao sul... E, bom, nem a cidade onde moram minha mãe e minha irmã, Campinas, está de fora dessa briga - ontem a sinagoga de lá foi atacada.
[ENQUANTO ISSO] Ontem à noite mais um atentado terrorista foi frustrado depois que uma mulher foi presa com explosivos. E o Irã anunciou que vai expandir as atividades nucleares...

3 comentários:

Anônimo disse...

Gabriel,

Sabe qd essa notícia de q um atentado terrorista foi frustrado chegará ao Brasil? Nunca! Ou, se chegar, será com muito custo...É por essas e outras q uma parte da imprensa brasileira faz uma cobertura irresponsável. Mostrar prédio em Beirute destruído é mole. Mostrar braso-libaneses desembarcando em SP e agourando Israel é simples. A cobertura à distância não pode se limitar ao drama dos libaneses. É necessário demonstrar diariamente o motivo pelo qual Israel reage. No entanto, isso não ocorre. Parece que Israel ataca o Líbano pelo simples prazer de tentar impor seus interesses - e os dos americanos - na região. A cobertura das organizações Globo está nojenta. Depois atacam sinagoga em Campinas e ninguem sabe o porquê. Não é nem uma questão de ser contra ou a favor da guerra. É uma questão de esclarecer os fatos, sem apelos sensacionalistas.

Parabéns pelos blogs!

Ândi disse...

Quanto mais leio sobre isso, menos razão dou para os ataques israelenses. Adoraria ver os motivos que o Eduardo citou no seu comentário, e que realmente desconheço.

Aliás, pelo que li e vi a respeito, nada mais natural que rejeitarem o cessar fogo nos termos propostos. Seria como pedir pros caras: "ó, abaixem suas calças, relaxa, e goza, porque já te f... mesmo".

Eu, certamente, não cederia.

Mas posso estar enganado, só preciso de fatos novos. Os que vejo me fazem pensar assim.

Mas o que mais gosto aqui é poder ter esse outro lado da história. Porque normalmente só vemos a versão dos, supostamente, coitados da história. Que nesse caso parecem ser os palestinos.

[]s

Anônimo disse...

Sinceramente nem sei onde isso vai parar..mas parece que esse povo arabe e meio...deixa pra la..