quinta-feira, setembro 21, 2006

De repente, 5767

Ano novo em Israel não tem o mesmo clima de ano novo no resto do mundo. Não tem neve porque cai no verão - ainda que seja o finzinho do verão. Não tem Papai Noel e corrida às lojas porque aqui não existe Natal. E, claro, a contagem é bem outra. O povo judeu entra, a partir do próximo fim de semana, em 5767.

Ano novo aqui em Israel tem um sabor de festa familiar. Não é como no mundo todo, onde o reveillon é momento de tomar porres, pular ondas e fazer promessas e planos que nunca se cumprirão! Ano novo judaico é evento familiar - suspeito que por isso sinto tanta falta das comemorações com a minha avó e toda a minha família, em São Paulo...

Ano novo em Israel é tempo de fazer um balanço pessoal e de, entre Rosh Hashaná e Yom Kipur, os chamados Yamim Noraim (dias terríveis) pensar o que se fez de bom e de ruim no ano que vai acabando. E de, no Dia do Perdão, pedir desculpas - a D's e às pessoas que nos cercam - pelas coisas ruins que fizemos (quem não faz?)

Ano novo em Israel também é momento de balanço da população. É nessa época que o Escritório Central de Estatísticas revela quantos somos. Somos 6 milhões, novecentos e noventa mil e setecentos israelenses. Somos 5,3 milhões de judeus, somos 1,4 milhão de árabes. É época de saber o crescimento da população, que se mantém em 1,8% ano ano desde 2004...

Ano novo em Israel é tempo de mensagens do presidente Moshe Katzav, do primeiro-ministro Ehud Olmert, que são espalhadas, distribuídas, traduzidas e lidas por judeus no mundo todo. É tempo de maçã com mel, do toque do shofar, cabeça de peixe, bolo de mel...

De repente, é ano novo em Israel. De repente, 5767. A todos os judeus que passam por aqui e a todos aqueles que não são judeus, shaná tová umetuká - ano feliz e doce. O mundo faz aniversário, é tempo de que todos comemoremos!

[ÍNTEGRAS] Se você quiser ler a íntegra das mensagens de Rosh Hashaná do premiê e do presidente, deixe o email nos comentários e eu mando!

segunda-feira, setembro 11, 2006

Onze de setembro todo dia

Nos últimos dias estive pensando sobre o que escreveria para marcar o quinto aniversário do onze de setembro. Lembro que em 2001 recebi no consulado dos EUA um visto para viajar para Nova York que valia entre o fim de agosto e o fim de setembro. Por uma dessas circunstâncias da vida, não fui. Fiquei em São Paulo e cobri de lá o nine-eleven.

Estava no ônibus, a caminho do trabalho em uma terça-feira ensolarada de rodízio, quando meu pai ligou no celular avisando que uma das torres gêmeas tinha sido atingida por um avião. Desci do ônibus e tomei outro caminho. Havia muitos boatos e bastante desinformação. No consulado norte-americano em São Paulo, portas fechadas.

Cinco anos se passaram e hoje estou em outra realidade. Vivo há dois anos e pouco em um país que conhece de perto a ameaça terrorista travestida de suicídios jihadistas. A estratégia ganhou força na segunda intifada, que começou um ano antes dos atentados às torres gêmeas, no setembro da visita de Ariel Sharon que foi usada como pretexto para a revolta.

Cinco anos depois, às vésperas de mais um onze de setembro, uma pesquisa publicada no Jerusalem Post mostra que mais e mais palestinos apóiam o terrorismo. Não é de se surpreender, verdade seja dita. Depois da segunda guerra do Líbano e dos resultados do conflito que se estendeu por trinta e poucos dias, esperar um apoio amplo à paz entre palestinos é sonho.

E a sensação é a de que sonhar com a paz é perda de tempo em Israel. Já virou lugar-comum ouvir de israelenses que eles deixaram de acreditar na paz. Sem generalizações. Apenas um sentimento compartilhado de cansaço com um conflito que não se estende, mas se arrasta, há longas décadas. Gerações já viram e entenderam que paz é motivo de risada...

Cinco anos depois do onze de setembro, morando em Israel, observo as coisas a partir de outra perspectiva. O susto com as imagens que pareciam de filme há cinco anos passou. Aqui em Israel lida-se com o assunto segurança diariamente - ao subir em ônibus, ao entrar em qualquer edifício, ao caminhar pela rua.

Um texto muito interessante do Jerusalem Post, no caderno de fim de semana, tenta explicar porque o approach israelense não consegue adeptos nos EUA do nine-eleven. Comparar os dois países é impossível - os números de lá são esmagadoramente maiores do que os daqui em população, circulação de pessoas em aeroportos etc...

Mais: aqui em Israel vivemos a necessidade de dedicar atenção a qualquer objeto suspeito. O cidadão sabe que ignorar uma mochila esquecida num ônibus pode significar a diferença entre estar ou não vivo no segundo seguinte. O israelense sabe como e a quem recorrer em um caso assim. E, o mais importante: recorre, de fato.

Onze de setembro... Qualquer pessoa, em qualquer ponto do planeta, lembra o que estava fazendo quando as torres foram atingidas. Em Israel a memória de atentados terroristas e de pessoas próximas que foram mortas em cafés ou viajando de ônibus fazem parecer que vive-se aqui um onze de setembro a cada dia.