segunda-feira, maio 01, 2006

Memória, independência, do-contras

Feliz dia do Trabalho. Por aqui, não comemoramos a data (o que significa que sim trabalhamos!) Mas outro feriado se aproxima. Quarta-feira é Yom haAtzmaut, dia da Independência e do aniverário de 58 anos de Israel. O país está pintado de azul e branco, como mostram as fotos que eu tirei em Jerusalém durante a semana passada. Clima de aniversário!

Mesmo assim, o espírito nesse dia do Trabalhador é de tristeza e lembrança dos soldados e civis israelenses mortos em guerras e atentados. Começou o Yom haZikaron, outra data morna, em que ouve-se duas sirenes (na foto, durante a sirene desta noite, os motoristas páram os carros e ficam de pé ao lado, no meio de uma rodovia), realiza-se atos memoriais por todo o país e se percebe um tom de luto que acaba na primeira estrela de amanhã, terça. Depois, shows em diversas cidades para comemorar e espairecer.

Dia da Independência é também dia de estatísticas e de saber quantos são os israelenses. De acordo com a última contagem do Escritório Central de Estatísticas, são sete milhões de cidadãos, dos quais 76 por cento são judeus e 20 por cento, árabes. Significa que há em torno de 5 milhões e trezentos mil judeus vivendo ao lado de 1,4 milhão de árabes. E no ano passado 21 mil novos imigrantes chegaram a Israel.

Claro que também aqui existem os do-contra. À noite, enquanto o país via diante da televisão programas monotemáticos, ortodoxos em Jerusalém insultavam a memória dos soldados mortos. A polícia foi chamada, relatou a manifestação como "muito séria", mas não prendeu ninguém. Dá uma olhada.

É o absurdo da nação... Há quem diga que por culpa de atitudes assim os problemas mais graves de Israel são os internos, e não os que o país tem com os palestinos ou os países árabes. Como o Bean mostrou semana passada, esses ortodoxos penduraram cartazes com dizerem como "Sionistas são cães", "Cuidado! Sionistas mordem" e "A besta sionista não é humana". E são judeus...

[UPDATE] Perguntei a uma amiga minha afinal qual o sentimento dela, como israelense, diante do Yom haAtzmaut. A resposta foi surpreendente. O Yom haZikaron fala a ela muito mais forte e muito mais ao coração do que o dia da Independência. Ela me contou que hoje à noite vai a uma festa em Haifa, onde vive, e que não se pensa na data com o significado que ela tem.

Na verdade, ela me disse que ficou bolada com a minha pergunta (mandei pelo celular uma mensagem questionando qual o sentimento dela nesta data, sendo israelense). Ficou triste por se dar conta de que o real significado acaba esquecido, perdido. E explicou que a sirene de Yom haZikaron a emociona muito.

Não é por menos. Todo israelense conhece alguém que foi morto em algum atentado ou alguma guerra. Mais: todo israelense conhece algum soldado ou já foi um. Resultado: falar de memória aos caídos é muito mais próximo deles do que falar em independência. Yom haAtzmaut é só dia de festa!

Mor, here you have it, in Hebrew!

[OUTRO UPDATE] Só hoje consegui contar minha emoção com a sirene.

Este post, escrito durante uma madrugada de telemarketing e reflexão, vai para os 22.123 civis e soldados israelenses que morreram em guerras e em atentados. É essa multidão que o país pára para homenagear no Yom haZikaron.

Atualizei meu flog com uma foto relacionada ao tema deste post, aqui.

3 comentários:

Ana Elisa / Lili disse...

Bom feriado!
bjo

Anônimo disse...

Nossa, Gabo.
Esse outro lado da história e do dia - a - dia do país, que a mídia não mostra é muito interessante.
Fiquei aqui imaginando como deva ser mesmo muito emocionante a cena.

Ana Elisa / Lili disse...

Posso imaginar como se sente, afinal tenho pessoas próximas bem distantes, apesar de não ter sido eu quem foi embora...é a vida!
Beijos