Quando visitei Israel pela primeira vez, tinha 23 anos. Passei seis meses aqui. Reinauguro minha vigésima terceira idade para contar o que mudou no meu olhar e no meu pensar desde então. De novo, minha vigésima terceira idade. Em bom português, o ponto-de-vista de um jornalista brasileiro no Oriente Médio.
sexta-feira, novembro 24, 2006
Vá pela sombra...
Às vezes esse mundo parece cômico demais para o meu gosto...!
[BOTA-DENTRO] E depois de curto e nada tenebroso outono, estou de volta - porque com mãe e irmã aqui por perto, o blog tinha que ficar pra depois!
terça-feira, outubro 24, 2006
O presidente e eu
Vale dizer que esse papo de presidente está realmente movimentando a política por aqui, com indicações de nomes novos para ocupar a residência presidencial. E a lista tem nomes como o de Shimon Peres (que perdeu em 2000 para Katzav e, como dizem as más línguas, perde até eleição pra síndico!), Elie Wiesel (sobrevivente do Holocausto e prêmio Nobel da paz) e muitos outros. Mas por enquanto nada é oficial, porque na prática o Katzav continua no trono.
Tudo isso para dizer que o título desse post não tem nada a ver com Katzav e muito menos com peripécias sexuais de figuras públicas. O presidente do título é outro. Estive hoje com Itzhak Navon, em uma entrevista rápida mas muito bacana no escritório dele aqui em Jerusalém. Navon foi o quinto presidente de Israel, o primeiro sefaradi a ocupar o cargo, entre 1978 e 1983.
Conversamos sobre o ladino, tema do meu texto na próxima edição da Revista 18. Ele cresceu em Jerusalém na década de 1920 em um bairro onde o ladino - idioma dos judeus sefaradim - era falado nas ruas, em uma época em que os imigrantes se concentravam em locais fechados como guetos. Essas coisas não existem mais - hoje sefaradim e ashkenazim estão dispersos e misturados.
Navon cresceu ouvindo o ladino - como ele disse hoje, para aprender e manter um idioma, uma pessoa tem que ouvi-lo "da fralda até mortalha". E a entrevista, minha primeira exclusiva com uma personalidade da política israelense (já estive em coletivas e eventos com o Sharon, o Olmert, o Peres e o Bibi), foi em ladino!
A entrevista correu bem e, no final, depois que eu tirei para a matéria algumas fotos dele cercado de livros por todos os lados, pipocou de repente, daquele senhor de 85 anos, ex-presidente de Israel, a pergunta: - Quer tirar uma foto comigo? Eu tirei! E você já viu - o presidente e eu!
domingo, outubro 15, 2006
Chove, chuva
sexta-feira, outubro 13, 2006
Que venha Simchat Torah!
[CORRERIA] Estou sem tempo agora, mas prometo escrever depois sobre esse chag!Enquanto isso, podem ler o comentário do autor do desenho acima, o ilustrador dos comics Dry Bones. Shabat Shalom!
domingo, outubro 08, 2006
Sucot? Cabanas?
É bem por aí... Essa época, que também marca o fim do verão e do calor, é tempo de festas. Tem Rosh Hashaná (ano novo), depois vem Yom Kipur (dia do perdão), com o tão falado jejum, e logo a semana de Sucot, que acaba com Simchat Torá, a festa que celebra a alegria do povo judeu em receber as tábuas sagradas no Monte Sinai. Depois de tudo isso, finalmente o ano começa, mesmo!
Mas... festa das cabanas? Bom, em poucas palavras, Sucot é a festa da colheita. Fácil de entender: aqui em Israel é "o período no qual a produção dos campos, pomares e vinhas é colhida" (do Chabad, aqui). Como o site explica, para que as pessoas não se esqueçam de D's no momento de alegria pela fartura nas colheitas, deixam a casa durante uma semana e moram em cabanas! Ah, cabanas!
O barato desse feriado é passear por Jerusalém (ou por qualquer cidade israelense com população religiosa) e ver, nos terrenos, nos jardins, em volta dos prédios, as sucot, as tais cabanas, montadas para a festa. As pessoas comem e dormem nas cabanas durante toda a semana de Sucot! Quem mais curte a farra são as crianças - como no meu prédio (onde fizeram quatro cabanas).
Aliás, recomendo o filme, especialmente para esses dias de festa das cabanas. A película é passada durante o feriado de Sucot aqui em Jerusalém e mostra a rotina de um casal que se reaproximou da ortodoxia e, às vésperas do feriado, não tem um centavo pra montar a sucá e comprar as "quatro espécies". Eles acabam recebendo convidados especiais...
Então, chag sucot sameach!
[DIDÁTICO] Do meu shutaf, o Bean, "nove maneiras de saber que é Sucot", aqui.
[HQ] Do Dry Bones uma tirinha bem-humorada sobre Sucot (e uma explicação).
[TELONA] Do filme Ushpizin, o site oficial, com várias informações, aqui.
[RELIGIÃO] Mais sobre Sucot no site do Chabad, aqui. "Quatro espécies"? Aqui!
sexta-feira, outubro 06, 2006
[curtas do 23a]
Paz, gasolina e palestinos
De hoje no Jerusalem Post: "Paz e Autoridade Palestina firmam contrato de fornecimento de gasolina". Explicando: a Paz é uma empresa israelense de combustíveis. O contrato é oficialmente o primeiro entre uma empresa de Israel e a Autoridade Palestina desde que o Hamas assumiu o governo por lá, em janeiro. O acordo foi assinado ontem à noite e, como a matéria diz, acontece em um momento em que negociações políticas entre Israel e os palestinos estão congeladas. Também segundo a matéria do jornal, o ministro interino das Finanças da AP, Samir Abu Aisha, contou que foi ameaçado de morte por conta do contrato...
Bom fim de semana, Shabat Shalom. Chag Sucot Sameach.
[FOTOS] Fiz um passeio ontem de moto por Mea Shearim, o bairro ultraortodoxo judaico de Jerusalém. Véspera de Sucot é dia de comprar as "quatro espécies". Em breve (quando a internet de casa deixar!) vou colocar as fotos que fiz por lá!
[OUTRA FOTO] A Tici, gaúcha linda e chamudá que mora aqui em Jerusalém também (e que eu conheci no Rio há alguns anos!) colocou no flog dela uma das minhas fotos do Kotel. A propaganda não é da minha foto, mas das coisas lindas que ela escreve e das fotos ótimas que ela tira! Tici, adoro você!
domingo, outubro 01, 2006
Águas de março
Tzom kal aos que jejuam hoje. Gmar chatimá tová. No Brasil, é dia de eleições - votem com consciência dessa vez...
[PARECE QUE FOI ONTEM] Outro dia o verão estava só começando, dando um sopro quente desavisado em uma manhã de junho. O tempo está voando...
[FÉ EM IMAGENS] (update) Estive no Kotel na madrugada de domingo, antes do amanhecer, até que ficou claro na primeira manhã de horário de inverno. Fiz algumas fotos por lá, de muita gente diante do Muro. Rostos e gestos de fé. Uma foto aqui. Todas aqui.
quinta-feira, setembro 21, 2006
De repente, 5767
Ano novo aqui em Israel tem um sabor de festa familiar. Não é como no mundo todo, onde o reveillon é momento de tomar porres, pular ondas e fazer promessas e planos que nunca se cumprirão! Ano novo judaico é evento familiar - suspeito que por isso sinto tanta falta das comemorações com a minha avó e toda a minha família, em São Paulo...
Ano novo em Israel é tempo de fazer um balanço pessoal e de, entre Rosh Hashaná e Yom Kipur, os chamados Yamim Noraim (dias terríveis) pensar o que se fez de bom e de ruim no ano que vai acabando. E de, no Dia do Perdão, pedir desculpas - a D's e às pessoas que nos cercam - pelas coisas ruins que fizemos (quem não faz?)
Ano novo em Israel também é momento de balanço da população. É nessa época que o Escritório Central de Estatísticas revela quantos somos. Somos 6 milhões, novecentos e noventa mil e setecentos israelenses. Somos 5,3 milhões de judeus, somos 1,4 milhão de árabes. É época de saber o crescimento da população, que se mantém em 1,8% ano ano desde 2004...
Ano novo em Israel é tempo de mensagens do presidente Moshe Katzav, do primeiro-ministro Ehud Olmert, que são espalhadas, distribuídas, traduzidas e lidas por judeus no mundo todo. É tempo de maçã com mel, do toque do shofar, cabeça de peixe, bolo de mel...
De repente, é ano novo em Israel. De repente, 5767. A todos os judeus que passam por aqui e a todos aqueles que não são judeus, shaná tová umetuká - ano feliz e doce. O mundo faz aniversário, é tempo de que todos comemoremos!
[ÍNTEGRAS] Se você quiser ler a íntegra das mensagens de Rosh Hashaná do premiê e do presidente, deixe o email nos comentários e eu mando!
segunda-feira, setembro 11, 2006
Onze de setembro todo dia
Estava no ônibus, a caminho do trabalho em uma terça-feira ensolarada de rodízio, quando meu pai ligou no celular avisando que uma das torres gêmeas tinha sido atingida por um avião. Desci do ônibus e tomei outro caminho. Havia muitos boatos e bastante desinformação. No consulado norte-americano em São Paulo, portas fechadas.
Cinco anos se passaram e hoje estou em outra realidade. Vivo há dois anos e pouco em um país que conhece de perto a ameaça terrorista travestida de suicídios jihadistas. A estratégia ganhou força na segunda intifada, que começou um ano antes dos atentados às torres gêmeas, no setembro da visita de Ariel Sharon que foi usada como pretexto para a revolta.
Cinco anos depois, às vésperas de mais um onze de setembro, uma pesquisa publicada no Jerusalem Post mostra que mais e mais palestinos apóiam o terrorismo. Não é de se surpreender, verdade seja dita. Depois da segunda guerra do Líbano e dos resultados do conflito que se estendeu por trinta e poucos dias, esperar um apoio amplo à paz entre palestinos é sonho.
E a sensação é a de que sonhar com a paz é perda de tempo em Israel. Já virou lugar-comum ouvir de israelenses que eles deixaram de acreditar na paz. Sem generalizações. Apenas um sentimento compartilhado de cansaço com um conflito que não se estende, mas se arrasta, há longas décadas. Gerações já viram e entenderam que paz é motivo de risada...
Cinco anos depois do onze de setembro, morando em Israel, observo as coisas a partir de outra perspectiva. O susto com as imagens que pareciam de filme há cinco anos passou. Aqui em Israel lida-se com o assunto segurança diariamente - ao subir em ônibus, ao entrar em qualquer edifício, ao caminhar pela rua.
Um texto muito interessante do Jerusalem Post, no caderno de fim de semana, tenta explicar porque o approach israelense não consegue adeptos nos EUA do nine-eleven. Comparar os dois países é impossível - os números de lá são esmagadoramente maiores do que os daqui em população, circulação de pessoas em aeroportos etc...
Mais: aqui em Israel vivemos a necessidade de dedicar atenção a qualquer objeto suspeito. O cidadão sabe que ignorar uma mochila esquecida num ônibus pode significar a diferença entre estar ou não vivo no segundo seguinte. O israelense sabe como e a quem recorrer em um caso assim. E, o mais importante: recorre, de fato.
Onze de setembro... Qualquer pessoa, em qualquer ponto do planeta, lembra o que estava fazendo quando as torres foram atingidas. Em Israel a memória de atentados terroristas e de pessoas próximas que foram mortas em cafés ou viajando de ônibus fazem parecer que vive-se aqui um onze de setembro a cada dia.
quarta-feira, agosto 23, 2006
... e quem perdeu a guerra?
E sobre o Líbano, algumas poucas linhas, que eu reproduzo aqui sem o nome do autor, atendendo a pedidos. O que ele disse me emocionou em especial e chamou minha atenção. Para quem acha que o país foi totalmente destruído, como a mídia tendenciosa ensina, vale ler e reler. O autor vive em Beirute e dá uma noção do pós-guerra. Vai na íntegra, exatamente como veio: Obrigado pela mensagem. Passamos por mais uma guerra e esperamos que não retorne, pois a situação ainda é delicada. Quanto a nós, residimos em bairro que não era zona de combate, foi especificamente bairros xiítas, escutávamos todos os aviões e bombardeios, mas estamos bem, onde não havia bombardeio a vida está correndo normal, este é o Líbano. Com o cessar-fogo dia 13 passado logo em seguida começaram a limpar as ruas e o país está voltando ao normal, nova reconstrução. Novamente obrigado e um grande abraço.
[*] Texto exclusivo para assinantes UOL. Se você quer ler o texto mas não pôde acessar, deixe um comentário com o seu email e eu envio assim que possível.
quinta-feira, agosto 17, 2006
Quem ganhou a guerra?
Pior: os israelenses que voltaram do campo de batalha no sul do Líbano estão contando por aqui, de volta em casa para uma folga que não deve durar muito tempo, coisas que a mídia israelense não cobriu, que os jornalistas estrangeiros não disseram, algumas a que sequer os blogs tiveram acesso - como por exemplo o fato de que muitas vezes eles avançavam sem ter um objetivo definido, sem saber o que deveriam fazer exatamente.
Existe em Israel agora uma sensação muito forte de que o país saiu perdedor. Não apenas pelo número altíssimo de soldados mortos em um conflito relativamente curto contra um grupo terrorista (e não um Exército constituído, como aconteceu em outras guerras), mas também pelo fato de que sabe-se muito bem que o objetivo da guerra - acabar com o Hizballah - não foi nem de longe atingido.
Não acho que isso, sozinho, seja sinal de que o Hizballah tenha saído vencedor, por outro lado. Não é. Mas se os fundamentalistas do Nasrallah lançaram 4 mil mísseis contra Israel, e a Inteligência daqui falava em um arsenal de 12 mil mísseis antes do conflito, faltam ainda 8 mil, apontados para cá. Mais: o Hizballah insiste que não vai se desarmar, uma das condições da resolução 1701, a mesma que impôs o cessar-fogo.
E aí, como é que fica? Politicamente, existe o entendimento de que se Israel não voltar à guerra, o governo de Olmert pode cair. E se cair, cai com razão, porque arrastou o país para um conflito que teve mais contras do que prós. Matou e feriu muitos civis, expôs soldados a perigos excessivos e não conseguiu abalar o Hizballah a ponto de diminuir a ameaça que representa.
Estrategicamente, por outro lado, se Israel voltar para o combate as coisas terão que ser diferentes - ouvi essa semana de um oficial da Inteligência que essa guerra foi, sozinha, diferente de todas as outras. Os ataques deverão ser intensos contra o Hizballah, mas devem evitar atingir civis - de fato os grandes perdedores dessa guerra foram o Líbano e o povo libanês.
Israel precisa aprender como lidar com um grupo que se esconde entre civis para atacar os civis do outro lado. É o desafio que se impôs ao "quarto exército mais poderoso do mundo" com essa guerra. E não é o único. Quem ganhou a guerra, afinal? Eu conto quando a guerra acabar, de fato.
[ÁUDIO] Falei sobre esse mesmo assunto na RFI, aqui. Todas as entradas aqui.
[OPINIÃO] Uma "vitória" do Hizballah?, de Bernard Haykel, aqui
terça-feira, agosto 15, 2006
Guerra de propaganda
Uma coisa nesse momento me chama especialmente a atenção - a nova guerra de propaganda que está acontecendo desde a assinatura do cessar-fogo. Israel e o Hizballah abaixaram as armas mas não abriram mão das estratégias de propaganda.
Já cansamos de ver imagens de folhetos caindo sobre o Líbano, nos quais Israel culpa o Hizballah pelos danos causados às cidades, agora que a população está voltando ao sul do país. Nos folhetos aparece o líder do Hizballah, Hassan Nasrallah, e inscrições em árabe explicando que ele, com o seqüestro dos soldados, provocou a guerra.
Por outro lado, o Hizballah faz a sua propaganda, cantando vitória em uma guerra que não terminou com vitoriosos, mas foi interrompida por um cessar-fogo imposto pelas Nações Unidas com a resolução 1701. As ruas de Beirute estão cheias de pessoas distribuindo chá e doces em sinal de vitória do Hizballah.
Agora é assim. Os libaneses voltam para o sul, os israelenses voltam para o norte. As populações saem dos abrigos e a rotina deve lentamente voltar ao normal. Fica apenas a pergunta: que tipo de cessar-fogo é esse e quanto tempo ele vai durar?
sábado, agosto 12, 2006
Uma resolução, enfim
[MAIS] Leia os principais pontos e a íntegra da resolução 1701 da ONU.
[ANALISANDO] Textos que valem a leitura, sobre a resolução: Not so bad in theory. An unmitigated disaster, UN resolution meets gov't goals, How to cease the fire.
[CONTAGEM] E hoje a guerra entre o Hizballah e Israel completa um mês.
quinta-feira, agosto 10, 2006
Uma análise
domingo, agosto 06, 2006
Rabiscando um cessar-fogo
O embaixador israelense nos Estados Unidos e na ONU dizia que os árabes nunca perdem uma oportunidade de perder uma oportunidade. Fato. Em 1947, quando a ONU dividiu a Palestina britânica em dois, os judeus aceitaram e os árabes não. Conclusão: 58 anos depois, existe Israel, mas ainda não existe Palestina.
Com o cessar-fogo rabiscado ontem, idem. Os líderes do Hizballah e da Liga Árabe, em contraste ao governo israelense, recusaram as condições do documento. Pudera. A proposta da ONU prevê que as tropas de Israel continuem no sul do Líbano até a chegada das forças internacionais.
De novo, os esforços diplomáticos podem descer pelo ralo.
Falei a respeito do assunto na RFI ontem. Eu dizia que propostas de cessar-fogo encontram forte resistência em Israel. E continuei: "existe por aqui o entendimento de que um cessar-fogo imediato e imposto pela comunidade internacional é um mau cessar-fogo. A região precisa de um acordo abrangente e durável, que consiga afastar a ameaça do Hizballah da fronteira entre Israel e o Líbano e ao mesmo tempo pressionar a Síria e o Irã a não rearmar o grupo libanês. Existe a necessidade de colocar o governo de Beirute de volta ao controle do Líbano".
[ALMA DO NEGÓCIO] E uma guerra não se faz apenas com mísseis. Imagens e slogans são parte da realidade de guerra. O Bean e a Daniela já contaram, mas eu faço questão de relembrar aqui que já virou "moda" colar nos vidros dos carros adesivos com inscrições otimistas e de incentivo. O que eu vejo mais freqüentemente, feita pelo banco Leumi ("nacional") diz "Nós venceremos", esse. Em diversas cidades outdoors como esses estampam os dizeres "Israel é forte". Tudo para não deixar o ânimo da população cair - outra coisa sobre a qual falei ontem na RFI. A população está impaciente e querendo uma resolução para o conflito.
[DEPOIMENTO] A Nathy contou um pouco do clima lá no norte. A família adotiva dela recebeu alguns parentes que moram em Carmiel e estavam em abrigos. E ela ouviu deles o relato do dia a dia de medo e tensão na guerra, aqui.
[INDO LONGE] Vale lembrar que nos últimos dias mísseis do Hizballah chegaram até Hedera, o ponto mais ao sul já atingido pelo grupo libanês. E vale dizer que a Hedera fica a poucos quilômetros do norte de Netania, cidade onde moram meu pai e meu irmão. E o Nasrallah já prometeu atingir Tel Aviv, que fica bem mais ao sul... E, bom, nem a cidade onde moram minha mãe e minha irmã, Campinas, está de fora dessa briga - ontem a sinagoga de lá foi atacada.
[ENQUANTO ISSO] Ontem à noite mais um atentado terrorista foi frustrado depois que uma mulher foi presa com explosivos. E o Irã anunciou que vai expandir as atividades nucleares...
terça-feira, agosto 01, 2006
"Fazendo a coisa certa"
porque você sabe que estamos fazendo a coisa certa"
Dan Gillerman, embaixador de Israel na ONU
Acontece que só hoje, e só por acaso, achei o vídeo abaixo. Na minha opinião, o discurso do embaixador israelense na ONU logo nos primeiros dias da crise é o mais significativo de todo esse enrolo - por isso, e só por isso, reproduzo aqui. Acho que o Gillerman, em uma mensagem para o embaixador libanês, resume bem a razão dessa guerra. E ele tem razão quando diz a frase que abre o post.
Hoje, quando o premiê Olmert disse que não vai haver cessar-fogo agora, as palavras do Gillerman ressoam e explicam a posição de Israel. Olmert, in a speech in Tel Aviv (...) broadcast both on radio and television, said there were "still many days of fighting ahead of us. Missiles and rockets will continue to land, and hours of fear, uncertainty and yes - even pain, tears and blood - are still expected."
Tem muito pra ser dito, mas eu prefiro deixar que fale o Gillerman.
[ONU] Se o vídeo não funcionar, a íntegra do discurso de Gilerman está aqui.
domingo, julho 30, 2006
Tzav Shmone
A situação da guerra com o Líbano, que hoje teve um capítulo sério e comprometedor para Israel, com a morte de quase 60 civis na vila libanesa de Qana, está exigindo o recrutamento de novos soldados, mais e mais.
O que chamou a atenção na matéria do canal 10 foi o espírito de família que existe em Israel. Não quero soar piegas, mesmo. Mas aqui é muito forte esse negócio de que o soldado é o pai, o irmão, o vizinho de cada cidadão. Na matéria apareceu uma família inteira (pai e dois filhos) que receberam o tzav shmone e, de manhã, colocavam a farda para atender o chamado.
A sensação que ficou é essa. A de que as pessoas são chamadas para o front e quem não vai fica com os olhos e os ouvidos grudados nas notícias...
quinta-feira, julho 27, 2006
quarta-feira, julho 26, 2006
Num piscar de olhos
[ÔNIBUS] Inauguro com esta nota coluna que deverá ser semanal no BlueBus, conceituado site brasileiro sobre mídia. Escreverei sobre mídia e assuntos correlatos daqui do Oriente Médio. Todas as minhas no BB estarão aqui. Sugestões para a coluna podem ser enviadas para cá.
sábado, julho 22, 2006
Cobertura de guerra
Só a CNN, que na minha opinião está liderando a cobertura, tem um total de dezessete correspondentes espalhados por Israel, Líbano, Síria e Chipre.
Cobertura de guerra tem um quê especial. Nem tive tão perto assim de tropas, embora tenha circulado pela região norte logo nos primeiros dias dos conflitos e conversado com muitos moradores. Mesmo assim, sendo jornalista, sinto que é importante estar aqui - é a velha máxima: estar no lugar certo, na hora certa.
O momento é delicado e o conflito entre Israel e o Hizballah pode durar semanas. Por isso, cancelei a viagem que estava marcada para terça-feira, para o Brasil. Fico pelo menos até o final de agosto e continuo correspondendo para a RFI, de Paris, e colaborando com a Eldorado AM, em São Paulo.
Acho importante explicar que o conflito está bastante longe de Jerusalém. Como comentei no AoE, nem se sente por aqui os efeitos do que está rolando no norte. Isso chega a incomodar - a população parece ainda apática e desinteressada embora muita gente esteja morrendo alguns quilômetros mais ao norte.
Outra faceta interessante da cobertura sobre o conflito são os blogs. Embora não tenham ainda a credibilidade dos grandes veículos, os blogs dão uma visão diferente e mais pessoal do que está acontecendo por aqui. Gosto de ler alguns blogs, feitos por internautas dos dois lados, para ter uma noção do que vai pela cabeça das pessoas.
[VEÍCULOS] Para acompanhar a cobertura do conflito, clique: CNN, YnetNews, Ha'aretz, Jerusalem Post, AlJazeera (inglês), Folha de S. Paulo (português) [outros? mande pra cá]
[BLOGS] Para ler os depoimentos de pessoas vivendo e vendo o conflito de perto, clique: Blog do Bean, Terra Estranha (português, de Israel), Israeli Bunker (inglês, de Israel), Entre tapas e copas (português, do Líbano), The wizard of Beirut (inglês, do Líbano) [outros? mande pra cá]
[AINDA A MÍDIA] Depois que Israel atacou antenas do canal de televisão Al-Manar, no Líbano, e a Federação Internacional de Jornalistas, à qual sou filiado, emitiu um comunicado de condenação, jornalistas israelenses retiraram a filiação da FIJ. Aqui. A Al-Manar é a televisão do Hizballah.
segunda-feira, julho 17, 2006
Palavras de Bush
"See, the irony is what they really need to do is to get Syria to get Hizbullah to stop doing this shit and it's over".
E eu concordo.
domingo, julho 16, 2006
sábado, julho 15, 2006
sexta-feira, julho 14, 2006
Três mísseis em Naharia (*)
Sinal de fumaça
Apesar de o país ser pequeno como um ovo, a capital fica distante o bastante das duas frentes de batalha para escapar de ataques e da sensação real de guerra que está assolando o país. São 60 quilômetros até a Faixa de Gaza e 200 até o norte.
Mas não tem como não sentir isso, de uma forma ou de outra. Nos próximos dias o irmão de um grande amigo meu vai ser deslocado para o norte. Ele está em Israel há dois anos, como eu, e está servindo no Exército. Milhares de reservistas foram chamados para ficar de prontidão.
Assino um serviço de notícias em tempo real pelo celular há cerca de 10 meses. Desde então, nunca vi em um só dia tantas mensagens. Recebi quase cem, com informações sobre novos ataques, dos dois lados. Assim soube da morte de uma mulher em Tzfat, outra em Naharia, dos ataques contra o aeroporto em Beirute etc etc etc.
Falei com uma moradora de Naharia, cidade fronteiriça, onde estive duas vezes - uma há quatro anos e outra no verão passado. A cidade é tranqüila e os edifícios são equipados com quartos de segurança protegidos por camadas de concreto, portas isoladas, janelas blindadas e guarnições estanques. Lá, ontem, se ouvia o disparo dos Katyusha. A polícia pediu para as pessoas se protegerem.
Pela primeira vez a cidade de Haifa, a terceira maior do país, foi atingida pelos mísseis disparados pelo Hizballah. Tentei mas não consegui falar com pessoas que moram lá. Amanhã tento de novo e deixo as sensações aqui.
[OUVINDO] Falei aqui no blog diretamente do norte de Israel. Para ouvir: Três mísseis em Naharya, No extremo norte, Disparos intensos, Narguila na guerra, Novos disparos.
quinta-feira, julho 13, 2006
Uma nova frente de batalha
As imagens daquele encontro informal, promovido pelo rei jordaniano em Petra, no sul do país, deixaram a sensação de que um acordo poderia brotar entre Israel e os palestinos. Aquele foi o primeiro encontro de alto nível em meses, e representou uma volta nos contatos entre os dois lados - afastados em um conflito de tensões.
Alguns dias depois, no domingo 25 de junho, a reviravolta. Em uma operação maluca, terroristas palestinos do Hamas se arrastaram por um túnel de um quilômetro de extensão entre a Faixa de Gaza e uma base do Exército no sul do país. O saldo: dois soldados mortos, dois palestinos mortos, um israelense seqüestrado.
Depois, a reação de Israel: operação "Chuva de Verão". Ataques ao longo da Faixa de Gaza para tentar recuperar o soldado, mortes de civis, bombardeios etc etc etc. A bola de neve rola morro abaixo e ninguém mais consegue pará-la. Agora, uma nova frente de batalha - seqüestro de mais dois soldados, pelo Hizballah, na fronteira norte.
Isso aconteceu ontem. Hoje o país acordou em meio a uma nova onda de ataques, lá no norte. Uma mulher de quarenta anos foi morta em Naharia, na fronteira norte, atingida por um dos 70 mísseis Katiusha disparados do Líbano contra cidades israelenses. Como resultado, mais ataques de Israel contra o Líbano, agora: operação "Por Merecimento".
"Parece véspera de Yom Kipur"
Falei hoje de manhã, para a minha entrada na RFI, com uma moradora de Naharia. As palavras dela foram contundentes: "a cidade está vazia, não se vê ninguém nas ruas, parece que estamos em véspera de Yom Kipur". Ela me disse que já na noite de ontem a polícia ordenou à população entrar nos abrigos anti-aéreos e quartos de segurança.
E rola a bola de neve...
[FOTO] Soldados israelenses se posicionam na fronteira com o Líbano (AP/ JPost)
[ÁUDIO] Falei a respeito da nova escalada da violência hoje na RFI, aqui
terça-feira, junho 27, 2006
"Seqüestraram um soldado"
Já se vão duas décadas e até o momento nenhuma notícia concreta sobre o paradeiro daquele jovem que deixou mulher e filha. Nem se está morto, nem onde está sendo mantido, se vivo. Uma recompensa de 10 milhões de dólares foi oferecida por informações que levem a ele. Nada.
Vinte anos depois, as manchetes estamparam nesta semana que um soldado foi seqüestrado. Outro, mais um, o primeiro em 12 anos. Ainda com o gosto amargo pela abdução de Arad, Israel resolveu atacar a Faixa de Gaza. Voltamos à bola de neve da violência no Oriente Médio.
A escalada de violência acontece em um momento que pode ser importante para a região: grupos representados de um lado pelo Hamas e de outro pela Fatah assinaram um documento que prevê o estabelecimento de um Estado palestino ao lado de Israel.
Embora seja visto com muito ceticismo em Israel, o acordo pode significar o primeiro reconhecimento oficial do Hamas ao direito de existência do Estado judeu.
Mas, diante de uma situação como essa, política e acordos não importam tanto. Israel prende a respiração e aguarda notícias sobre o soldado seqüestrado, um menino de 19 anos que está nas mãos de terroristas. O país, que ainda se lembra do amargo de Ron Arad, espera não sentir esse gosto mais uma vez.
[BASTIDORES] No Blog do Bean tem uns comentários de bastidores sobre um dos dias em que transmiti para a RFI. Quando eu estive no Brasil, em janeiro, ele - que é meu flatmate - esteve no meu lugar como correspondente para a rádio francesa.
[MAIS] Canal especial sobre o seqüestro do soldado israelense Gilad Shalit no YNet News, aqui e sobre os ataques à Faixa de Gaza, em resposta, no Ha'aretz , aqui.
sexta-feira, junho 23, 2006
Fundamentalismo preconceituoso
during parade – they will do so over our dead bodies’
Ibrahim Sarsur, deputado árabe
'The feeling is that Jews disgrace Jerusalem's
holiness with the government's encouragement'
rabino israelense
Para quem não sabe, estão agitando para daqui a dois meses uma parada gay em Jerusalém, que certamente vai ser bem menor que a que rolou recentemente em São Paulo. Os ortodoxos - dos dois lados, como mostra a matéria do YNet News - são contra.
Não é novidade. No ano passado a parada em Jerusalém, a primeira realizada na capital, acabou mal. Um judeu ortodoxo esfaqueou um dos 4 mil participantes da marcha colorida, que parou o trânsito e estampou manchetes.
A coisa é bem diferente do que rola em Tel Aviv, onde a sociedade é bem mais liberal. Parecem dois mundos, separados por apenas 45 minutos e por pelo menos duas linhas de ônibus freqüentes.
Mas o que me deu mais bronca foi outra declaração do mesmo deputado árabe que eu coloquei lá no alto. Para ele, o "ataque" da parada gay contra a "identidade dos jovens árabes da cidade" é "mais feroz do que o ataque sionista para judaizar Jerusalém".
Tomara todos os nossos problemas fossem a "ameaça gay".
Estou indo para Tel Aviv passar o dia.
[NO GRAMADO] E por falar em polêmica e Israel, mais uma, agora com a Copa: um jogador do time de Gana (que vai enfrentar o Brasil na terça) mostrou em um jogo, depois dos dois gols que marcou, a bandeira israelense. É que ele joga aqui, quis fazer uma espécie de agradecimento e homenagem. Se deu mal. Teve que pedir desculpas oficialmente por poder ter ofendido alguém. Absurdo... O Bean conta mais no blog dele, aqui.
quinta-feira, junho 15, 2006
Amigo é pra essas coisas...
Todo dia há notícias de acidentes, com imagens e números chocantes... Da mesma forma que falam da previsão do tempo, falam em quantos se arrebentaram nas estradas.
E não acontece só no noticiário. No feriado de independência eu estava com o carro do meu pai e fui para uma rave em Tel Aviv (sim, eu numa rave). Na volta, dirigindo pela estrada em direção a Netania, onde ele mora, estava meio aflito porque estava bem cansado, pescando no volante, e de repente vi dois carros arrebentados no caminho.
É... Os israelenses têm uma capacidade incrível de detonar os carros e provocar acidentes hollywoodianos, mesmo dirigindo carros modernos em estradas-tapete, perfeitas, que são recapeadas e repintadas a cada poucos meses. Fora que não são muito mestres em cuidar dos carros, que vivem sujos, riscados. Vai entender...
Bom, o resultado de estatísticas tão tristes não poderia ser outro: campanhas e mais campanhas pela conscientização ao dirigir. Uma delas, que está no ar na rádio Galgalatz, provavelmente uma das mais ouvidas daqui, fala do famoso "amigo da vez", o escolhido da noite para dirigir e não beber, e trazer os amigos de volta para casa seguros.
O conceito, também usado no Brasil, é o mote da campanha Im shotim lo nohagim, bishvil ze iesh chaverim. A frase tem sentido duplo em hebraico. A palavra shotim, dependendo de como é grafada, significa "bebem" ou "idiotas". Im idem - pode ser "se", pode ser "com". Ou seja: "com idiotas não se anda", "se beber não se viaja" (também nohagim tem sentido que cabe nas duas versões).
domingo, junho 11, 2006
O caro pacote da Copa
Se fosse no Brasil, isso seria razão suficiente para um quebra-quebra, uma revolução civil! Mas como Israel não é, nem de longe, o país do futebol, apesar de ter estado bem perto da classificação e de poder participar pela segunda vez de um "mundial", o máximo que rolou aqui foi um boicote e uma petição. O resultado: "apenas" 38 mil pessoas assinaram o serviço.
A partida inicial, entre os alemães e a Costa Rica, rolou num canal aberto. A segunda, na qual o Equador lavou a Polônia, diminuindo minhas chances no bolão do qual estou participando, só viu ao vivo quem pagou os 100 dólares! Eu vi porque uns amigos compraram o caro pacote da Copa... Na terça-feira, estréia do Brasil, as TVs vão transmitir o jogo, contra a Croácia. Mas não vou estar diante da TV - vai rolar festinha brasileira num bar aqui, com direito a telão e cerveja!
E não quero nem saber. Adotei a campanha do Batendo Bola, e para mim, dia de jogo do Brasil é feriado, mesmo em Israel! Vou sair pro bar enrolado na minha bandeira gigante, com camisa canarinho... Enfim, o espírito é o do vídeo abaixo!
Enfim, minha torcida é mesmo pela Costa do Marfim!
[MAIS] Especial BBC Copa do Mundo, em português.
quarta-feira, junho 07, 2006
Uma dura entrevista
SPIEGEL: Mr. President, we're talking about the Holocaust because we want to talk about the possible nuclear armament of Iran -- which is why the West sees you as a threat.
Ahmadinejad: Some groups in the West enjoy calling things or people a threat. Of course you're free to make your own judgment.
SPIEGEL: The key question is: Do you want nuclear weapons for your country?
Ahmadinejad: Allow me to encourage a discussion on the following question: How long do you think the world can be governed by the rhetoric of a handful of Western powers? Whenever they hold something against someone, they start spreading propaganda and lies, defamation and blackmail. How much longer can that go on?
A entrevista aparece poucos meses depois de o presidente iraniano ter colocado em dúvida o Holocausto. Em diversos pontos da entrevista, em inglês, Ahmadinejad tenta argumentar que se a Alemanha é responsável - legal ou moralmente - pelo Holocausto, o Estado de Israel deveria ser instalado na Europa.
Enfim, um must-read.
[MAIS] Na mesma Der Spiegel, especial sobre Oriente Médio, com notícias e análises sobre a região em inglês.
terça-feira, junho 06, 2006
A seguir escenas del próximo capítulo...
Espanhol, muito mais comum nos canais Viva ou Viva Platina, onde a maioria das novelas é argentina ou mexicana mesmo, é fácil de achar pelas ruas, não apenas falantes, mas entendedores, e bom entendedores - afinal, há muitos olim chadashim de países de fala hispana. Fica até arriscado falar em espanhol no ônibus se você não quiser que ninguém te entenda além do seu interlocutor. E há sempre a chance de ouvir a pergunta:
Eize safá atem medabrim? Que língua vocês estão falando?É... Israel não é o país das dublagens, definitivamente. Qualquer programa em qualquer idioma e em qualquer canal de televisão (menos os russos...) é legendado - filmes, novelas, documentários, programas eróticos... Mantém-se o original com suas qualidades e defeitos. E o povo aprende outros idiomas.
Isso, claro, sem contar que é um ótimo exercício para quem está aprendendo o hebraico. Em casa, por exemplo, é programa quase religioso sentar diante da televisão, todas as tardes, às 18h47, e ver Celebridade. Não apenas porque Celebridade é a única novela que presta, e nem tanto porque é oportunidade de escutar português e ver paisagens maravilhosas do Rio...
Mas muito porque podemos ler as legendas - e em geral morrer de dar risada com as traduções... Duro mesmo é ver no final de cada parte as "escenas del próximo capítulo"...
Do Blog do Bean, imagens da novela captadas na televisão, aqui.
quinta-feira, junho 01, 2006
Horários de shabat
O negócio é o seguinte: alguém afixa esses avisos nas paradas de ônibus, semana após semana, informando o horário de começo (para o acendimento das velas) e de fim do shabat, o trecho semanal da Torá (parashat hashavua) e outras informações úteis para quem é ortodoxo e para quem não é (afinal, os serviços, como os ônibus, páram na tarde da sexta-feira e voltam só no sábado à noite - outra coisa que só em Israel, mesmo).
Hoje não é sexta-feira, mas é erev chag, o que significa véspera de feriado (amanhã é Shavuot). Na prática, é como se fosse manhã de sexta-feira: o shuk (mercado livre) começa a funcionar mais cedo, as pessoas caminham num ritmo mais acelerado porque o dia é mais curto, os ônibus páram de circular ao anoitecer, barraquinhas são montadas pelas ruas para vender flores etc. E, ah, eu não trabalho à noite!
Algumas palavras sobre Shavuot: é uma das festas mais importante do calendário judaico, ao lado de Pessach e de Sucot. Nesse dia, que vem "uma semana de semanas" (49 dias) depois de Pessach, se celebra a entrega das tábuas da lei, a Torá, ao povo judeu no monte Sinai, e também o transporte ao Templo dos primeiros frutos da colheita de cereais.
[Clique na foto para ampliar e poder ler o que aparece no papel!]
sexta-feira, maio 26, 2006
Capital eterna e dividida
Como nas cidades brasileiras, aqui há lugares onde não se vai, apesar da sensação generalizada de segurança. Não sei vai por ser judeu ou por ser muçulmano. Não se vai por usar kipá ou kfia. Não se vai por medo, o simples medo de não pertencer, de destoar, de ser diferente em uma terra de diferenças.
E Jerusalém não é só aquela cujo nome aparece nos livros sagrados das religiões que insistem em ser parecidas no monoteísmo delas, apesar das diferenças. A cidade de ouro, cujas muralhas brilham nesta época do ano com o sol, tem divisões até no transporte coletivo. Ironia? No lugar em que estatisticamente mais terrorismo acontece no mundo, árabes e judeus têm linhas de ônibus independentes.
O traçado da Cerca de Segurança que rasga Jerusalém divide a cidade dela mesma. Quem pára perto da Cinemateca antes do anoitecer consegue notar não muito longe dali, depois do vale, o muro de 7 metros de altura que divide o cá do lá. Um risco tortuoso e cinza na cidade sagrada para tanta gente. Jerusalém é também a cidade na qual em alguns ônibus os homens se sentam à frente e as mulheres na parte do fundo.
A Cidade Velha, ela mesma, é território dividido, em quatro. Divisões que se entrelaçam. Os bairros são testemunhas de gente que não pertence a eles. Judeus desfilam seus ternos e chapéus pretos nas ruas com nomes árabes ou armênios. Kfias vermelhas ou pretas passeiam por esquinas do bairro judeu. Todos visitam o "quarto" cristão...
Tem uma frase interessante, que eu cito de memória, de um autor de quem não me lembro o nome agora. Jerusalém é um local esquisito: é o único local onde árabes muçulmanos vestindo trajes tradicionais vendem símbolos cristãos a peregrinos do mundo todo em troca de uma nota de dinheiro que estampa a imagem de um rabino... No final das contas a cidade dividida une religiões, une fés, une povos separados pelas diferenças.
Mas a notícia do dia por aqui foi outra, como o Pedro Doria comentou lá no NoMínimo.
[NOMÍNIMO] Entendi a razão de tantos comentários nesse post - o mesmo Pedro Doria falou do assunto e linkou o 23a idade lá no NoMínimo. Embora não concordemos na polêmica "unificação x tomada", gostei de ver o 23a em um dos sites que leio todos os dias!
quarta-feira, maio 24, 2006
Suco de laranja grátis *
Quer ver o que eu vi? Aqui o sujeito com o microfone, fazendo a barulheira que vocês ouviram. E aqui tem até um ortodoxo na fila para o suco! Tem outra, aqui, do pessoal se esmagando para pegar o suco!
sexta-feira, maio 19, 2006
Confusão na Faixa de Gaza
[MAIS] Outras entradas minhas na RFI aqui.
segunda-feira, maio 15, 2006
Cheiro de feriado...
E na minha São Paulo, a fumaça vem dos ônibus queimados, não de fogueiras comemorativas. Ainda estou boquiaberto diante da CNN, que passou sem parar as imagens do caos no Brasil (só assim o país pode aparecer por lá, né?!) Mas não pude deixar de reparar na imagem em que aparece, em uma cadeia, a inscrição "Feliz dia das mães" rabiscada em uma parede. Ê, povo.
domingo, maio 14, 2006
Mas não com essa farda...
Minha opção foi a primeira. Assinei no dia 10 de abril um documento pedindo dispensa e explicando que já sou muito velho (27 anos, quando os israelenses entram aos 18!), sou formado e tenho trabalho. São razões suficientes para que a Tzahal - que não tem dinheiro para manter um soldado que não vai fazer nada em três meses - me dispensar.
Pode ser que alguém esteja aí se perguntando o que me levou a pedir a dispensa em vez de servir. Eu mesmo saí do escritório de recrutamento me fazendo essa pergunta para só depois me convencer de que tinha feito a coisa certa. O negócio é que já não tenho mais idade e disposição para "trancar" minha vida durante três meses e brincar de ser soldado.
Além disso, outras duas razões, bem práticas. Uma é que eu passaria a ganhar 5% do que eu ganho hoje trabalhando. Outra que, no final das contas, um orgulho jornalístico e essa coisa de achar que a gente pode ser neutro e objetivo falaram mais alto. Agora, então, é oficial: vou lutar mas não com a farda verde-musgo.
Enfim, como tem gente que não escapou, vamos mandar pizza e hambúrguer para eles!
Este post é dedicado à Dé Blatt, que deu a dica: só mesmo armando barraco e batendo o pé em bom e alto hebraico para ser escutado por aqui. Funcionou, e agora posso lutar com outras fardas e outras armas. Vai também para a minha mãe, não só porque hoje é Dia das Mães, mas porque sei quanto é importante para ela me ver longe de armas.
quarta-feira, maio 10, 2006
O orkut dos kibutzim
Imagina só: calor, uma piscina gigante, um trabalho que era mais farra do que trabalho, gente do mundo todo, aulas de hebraico a cada dois dias, e... um país inteiro ali ao lado pra conhecer, pra se aventurar - mesmo no pior ano da intifada. Foi assim. Dá saudade.
E aí uma amiga minha, que aliás aniversariou ontem, me contou de um site que é uma espécie de orkut para quem já viveu em kibutzim. Infelizmente é pouco divulgado (quer dar uma força?) e tem muita gente que nem sabe da existência. Mas quem já passou por algum kibutz - qualquer um dos mais de duzentos, pode se cadastrar lá e tentar, com sorte (porque o site não é popular como o orkut, na verdade), achar outras pessoas daqueles dias inesquecíveis.
O site, Kibbutz Reloaded, foi criado por dois loucos - um inglês e um israelense. O inglês, Victor Kremer, conta no perfil dele lá no site que durante o tempo que passou em dois kibutzim, ambos no Negev, ordenhou 270 mil vacas e fumou 426 maços de Noblesse, um dos cigarros mais baratos daqui! O outro, Uzi Dor, nasceu em um kibutz e diz que só nos pesadelos dele os kibutzim aparecem...!
Enfim, fica a dica. Se você já morou em um kibutz, entra lá. Se conhece alguém que morou em um, conta pra ele.
[MAIS] Quer voluntariar em um kibutz você também? Aqui tem informações, em inglês. E essa agência, no Brasil, faz todo o trabalho por você.
sexta-feira, maio 05, 2006
Ligação direta...
[ORKUT] Na comunidade do blog, outras fotos das esquisitices de Israel!
segunda-feira, maio 01, 2006
Memória, independência, do-contras
Mesmo assim, o espírito nesse dia do Trabalhador é de tristeza e lembrança dos soldados e civis israelenses mortos em guerras e atentados. Começou o Yom haZikaron, outra data morna, em que ouve-se duas sirenes (na foto, durante a sirene desta noite, os motoristas páram os carros e ficam de pé ao lado, no meio de uma rodovia), realiza-se atos memoriais por todo o país e se percebe um tom de luto que acaba na primeira estrela de amanhã, terça. Depois, shows em diversas cidades para comemorar e espairecer.
Dia da Independência é também dia de estatísticas e de saber quantos são os israelenses. De acordo com a última contagem do Escritório Central de Estatísticas, são sete milhões de cidadãos, dos quais 76 por cento são judeus e 20 por cento, árabes. Significa que há em torno de 5 milhões e trezentos mil judeus vivendo ao lado de 1,4 milhão de árabes. E no ano passado 21 mil novos imigrantes chegaram a Israel.
Claro que também aqui existem os do-contra. À noite, enquanto o país via diante da televisão programas monotemáticos, ortodoxos em Jerusalém insultavam a memória dos soldados mortos. A polícia foi chamada, relatou a manifestação como "muito séria", mas não prendeu ninguém. Dá uma olhada.
É o absurdo da nação... Há quem diga que por culpa de atitudes assim os problemas mais graves de Israel são os internos, e não os que o país tem com os palestinos ou os países árabes. Como o Bean mostrou semana passada, esses ortodoxos penduraram cartazes com dizerem como "Sionistas são cães", "Cuidado! Sionistas mordem" e "A besta sionista não é humana". E são judeus...
Na verdade, ela me disse que ficou bolada com a minha pergunta (mandei pelo celular uma mensagem questionando qual o sentimento dela nesta data, sendo israelense). Ficou triste por se dar conta de que o real significado acaba esquecido, perdido. E explicou que a sirene de Yom haZikaron a emociona muito.
[OUTRO UPDATE] Só hoje consegui contar minha emoção com a sirene.
Este post, escrito durante uma madrugada de telemarketing e reflexão, vai para os 22.123 civis e soldados israelenses que morreram em guerras e em atentados. É essa multidão que o país pára para homenagear no Yom haZikaron.
Atualizei meu flog com uma foto relacionada ao tema deste post, aqui.